
Um olhar angustiante reflete o estado de quem se vê a desintegrar. Diante da angústia da liberdade e da necessidade de se ultrapassar, torna-se essencial para alguns desconstruir os seus velhos suportes: Blocos, padrões maçantes e resistências são quebrados e deixam, enfim, de atormentar tal como muros super-egóicos que impedem a autêntica associação livre.
O espelho também é quebrado, aquilo que imaginávamos ser terá nova reflexão, sem mais ruminação.
Desta revolução em chamas se renasce das cinzas, a antiga perspectiva foi quebrada e torna-se essencial a estruturação de novas orientações. Como ser agora?
De alguma forma a revolução deixa rastros.
A fumaça que paira e se espalha anuncia incêndio, anuncia luz em algum local a iluminar a escuridão e a ampliar a percepção.
Há um processo de combustão daquele que luta, combustão que gera energia.
O não renunciar a sonhos e fantasias e também ideais, acaba por inspirar outros, contagiando o ambiente, tal como a música.
Ecos de indignação, manifestação e proclamação ressoam de modo a se configurar nos mais novos discursos e cantos.
A própria revolução que permitiu aparecer uma identidade, uma singularidade cuja nova face só foi possível devido ao contágio e influência que recebera de outros espíritos em transformação.
A revolução ocorre quando o contato com o externo, com o outro significativo, é tal que o mesmo irrompe no interno convidando-o a dançar.
Toda revolução é uma forma de amor; seja à vida, à alguém ou à uma ideologia; um amor a um objeto com o qual passamos a nos identificar.
A revolução
é a materialização da motivação que nos move rumo à transcendência,
é a atuação, o pôr em prática dos ideais e sonhos, a busca por materializar o ideal de Eu;
é aquilo que nos permite transcender para além do bem e do mal, para além de meras regras contextualizadas em certo tempo e espaço, em nome de caminhar rumo à ética e verdade última, seja ela qual for.
O homem é uma arte em eterna construção, habitando poeticamente o mundo, um ser plástico que expressa, inspira, comove, incomoda e revoluciona das mais diversas formas por meio de suas expressões ontológicas e existenciais.
Ana Lúcia Senise
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